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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Energia octogenária

Fabio Riesemberg*

Fui acompanhar, na casa de João Féder, entrevista para um jornal de Curitiba sobre o lançamento do seu décimo livro, "Gutenberg & Eu". Foi o dia em que ele fez oitenta anos, mostrando uma lucidez enorme e um bom humor fora de série. Durante uma sessão de fotos em sua escrivaninha abarrotada de jornais novos e velhos, todos empilhados em uma belíssima desordem, ele autografou alguns exemplares do penúltimo livro, "Pa Bo Kai Tan Gan Kino", para mim e para a equipe do jornal.

"Quando o Sr. estreou na profissão de jornalista (uma das três atividades do octogenário, sendo as outras duas advogado e professor)?", perguntei a ele. "Com dez anos eu escrevia as notícias e as mandava para o jornal O Dia, que hoje não mais existe", disse ele. Entre um clic e outro eu espiava as estantes estufadas de livros e imaginando o homem lendo cada um deles. Eu havia lido vários dos textos do novo livro dele. Mas procurei primeiro um em especial, já que o Jean Féder, seu filho, havia comentado algo a respeito: "Yma Sumac & Eu". Yma Sumac foi uma cantora peruana pela qual João Féder tem paixão. E qual foi a minha reação ao me despedir de Féder e ver montes de CDs sobre um móvel da sala de estar? A equipe do jornal, já achando que eu ia descer junto (e realmente ia), ficou meio sem saber o que fazer, porque alguém tinha que abrir a porta trancada lá no térreo. Perguntei ao Féder que tipo música ele preferia. Bem mais específico que o esperado, ele imediatamente respondeu: "Capricho Italiano", de Tchaikovsky". Na mesma hora voltou-se para aqueles CDs para mostrar a discoteca. A equipe do jornal ficou um tanto desconcertada, mas apenas por uns segundos, até a esposa de Féder, D. Rose, acompanhá-los à portaria. Me estarreci com o ecletismo musical de João Féder. Entre os títulos ele mostrou Samy Davis Jr., Daniela Mercury, Norma Bengel (um vinil com uma foto de Norma ainda bonita), Macarena (fiquei imaginando o velhinho dançando macarena, pois, quando mostrou o CD já foi colocando os braços em posição para um dos passos da dança), George Gershwin, Carmen Miranda, Bee Gees, Frank Sinatra e por aí vai. Um ecletismo sem fim. Uma quantidade de CDs de flamenco e outra de trilhas sonoras de filmes, incluindo uma coletânea com "Good Morning Sunshine", do Hair. Mas não deu tempo de chegarmos à Yma Sumac.

No meio da empolgação de Féder toca o telefone. O filho, Jean, também queria falar comigo, avisando da entrevista que ele havia marcado para o pai em uma rádio noticiosa no dia seguinte. Um portal de notícias também ia ligar dali a dez minutos e D. Rose ia agenciando os compromissos. Tive que ir embora, pois tinha trabalho a fazer e Féder também precisava continuar a dar entrevistas. Perguntei sobre um próximo livro, ao que ele respondeu: "Chega, né?". Mas eu nunca acredito nesses fins de carreira de personalidades. Romário disse várias vezes que ia parar antes de fazê-lo. O Schumaker também saiu e voltou para as pistas. Por que Féder o faria? Vi na tevê que nossa tecnologia em breve nos levará aos 120 anos. "Só isso? ", disse Féder sobre esse meu comentário. O homem ainda está cheio de energia. Para mim esse não será o último livro.

*Fabio Riesemberg é jornalista da Enfoque Comunicação.

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